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Por Helena Avelar e Luís Ribeiro A
Astrologia Ocidental está a redescobrir as suas origens. Muitos
dos estudantes e praticantes de Astrologia, depois de percorrerem as
áreas vizinhas da auto-ajuda, psicologia, simbolismo e intuição,
optam agora por um salutar retorno às origens. E embora a dinâmica
interdisciplinar tenha dado origem a muitas descobertas interessantes,
os ensinamentos baseados apenas em opiniões pessoais ou “intuições”
já não são aceites de forma inquestionável.
Na verdade, a última década tem sido marcada pela depuração
e pelo refinamento das técnicas e abordagens astrológicas. Entre as figuras de vanguarda deste movimento encontram-se os astrólogos Robert Zoller e Susan Ward. Ambos têm vasta experiência em diversas áreas do conhecimento astrológico e ambos optaram pela via tradicional, que consideram a mais completa e objectiva. Robert
Zoller é um dos principais investigadores da Tradição
Astrológica Ocidental. Para além de ser responsável
pela tradução de várias obras antigas, investiga
e experimenta na sua prática diversas técnicas milenares.
O seu trabalho tem contribuído largamente para a recuperação
de antigos conhecimentos astrológicos. “Quando comecei a aprender Astrologia natal “moderna”, senti que havia uma coisa que me faltava: regras. Não havia nada que me dissesse o que era aceitável ou inaceitável. E no entanto, aos meus olhos de principiante, os astrólogos pareciam saber exactamente como trabalhar. Cheguei a pensar que era estúpida e que nunca seria uma boa astróloga. Quando encontrei a Tradição foi como se todos os meus sonhos se tivessem realizado: o sistema era quase matemático e maravilhosamente lógico. Compreendo que algumas pessoas considerem as regras restritivas, mas para mim são extremamente úteis e consolidantes. Com tempo e com o aprofundar do conhecimento tornei-me capaz de estender as regras para ter mais espaço de manobra. Mas de quanto espaço preciso, se as regras resolvem o enigma da carta?” Uma das razões para a actual proliferação de opiniões contraditórias entre os astrólogos é, na opinião desta astróloga, a ligação entre a Nova Era de Madame Blavatsky e a Astrologia. “Passou a ensinar-se que o conceito de experiência pessoal, compreensão e intuição eram as faculdades mais úteis para aprender e praticar Astrologia. Actualmente isto é a verdade aceite, e é por isso que em Astrologia natal moderna o ponto de vista de uma pessoa é tão válido como o de qualquer outra, mesmo quando se discute algo tão simples como Mercúrio combusto. Às vezes funciona, outras vezes não. Mas para um princípio ser considerado válido deve funcionar para toda a gente e, para que seja esse o caso, temos ainda de saber por que razão funciona. Para um determinado praticate pode ser correcto dizer ‘faço isto desta forma porque funciona para mim’, mas para todos os outros, isso torna-se inútil”. Quanto a uma possível articulação entre as diversas abordagens da Astrologia, Susan Ward afirma que “as diferentes perspectivas são, em minha opinião, irreconciliáveis”. Perante o crescente número de astrólogos ‘modernos’ que começam a aplicar algumas técnicas tradicionais ao trabalho de cariz psicológico, a sua opinião é também muito clara: “Pessoalmente, não acredito na mistura de métodos. No entanto, isso não deverá impedir ninguém de explorar as diversas técnicas”. No entanto, a sua experiência pessoal passa exactamente pelo percurso inverso: em lugar de “repescar” técnicas antigas para acrescentar às interpretações actuais, Sue tem vindo gradualmente a pôr de parte os elementos modernos, como os trans-saturninos, os midpoints, as progressões secundárias e o Chiron. “A Tradição não precisa de extras, já tem tudo – e isto não é apenas a minha opinião pessoal”. Talvez
devido à sua simplicidade e coerência, a Tradição
Astrológica está a ser largamente retomada, não
apenas na Europa e Estados Unidos, mas também no Extremo Oriente
e no Hemisfério Sul. “Isto deve-se em parte ao amadurecimento
dos estudantes da década de 80. Houve um aumento gradual do número
de astrólogos que começaram a escrever, a praticar e a
ensinar”. Para Sue Ward, trata-se apenas de uma questão
de tempo até a Tradição ganhar aceitação
geral. No
que diz respeito ao grande público, Sue Ward considera que existe
actualmente uma maior consciência, embora em Inglaterra sempre
tenha havido uma larga franja de público interessado no tema.
“Já em 1650 os almanaques anuais de William Lilly vendiam
cerca de 30 mil unidades, o que corresponde aproximadamente a um almanaque
por cada três famílias! Estes números indicam que
havia bastante procura pela Astrologia”. Em suma, a Astrologia continua a ser vista de forma muito semelhante ao que sempre foi: há os que consideram que tem validade e os que pensam que é apenas um monte de disparates”. Para Susan Ward, existem duas grandes vantagens na actual divulgação da Astrologia: por um lado, há um maior número de pessoas “tocadas” pelo tema, o que indica maiores possibilidades de encontrar os futuros guardiões da Tradição; por outro lado, o grande número de compradores de programas informáticos de Astrologia faz aumentar a possibilidade de desenvolver mais e melhor software. A grande desvantagem desta situação é a proliferação de métodos do tipo “fácil e rápido”, que em nada contribuem para ensinar os estudantes nem para desenvolver a Astrologia. “Há uma grande quantidade de disparates a serem ensinados e escritos em nome da Astrologia e em minha opinião isto acontece devido à enorme procura que existe para este tipo de material. Note-se que uma grande parte deste mercado serve apenas para aumentar contas bancárias, e não para fornecer informação de qualidade ou educação astrológica. A popularização da Astrologia levou a uma tendência para a rapidez e a conveniência – uma mistura descolorida e insubstancial. Um pouco como os hamburgers MacDonalds, a Astrologia foi cortada em fatias tão finas e de tal forma processada que já não tem textura, não dá satisfação e não beneficia ninguém”. Baseando-se na sua experiência de mais de duas décadas, Sue Ward não hesita em afirmar que a Astrologia é uma arte sagrada. “Embora seja aberta a todos, apenas uns poucos vão aprofundar os estudos. Menos ainda são os que têm o temperamento para se comprometer com este estudo e devolver à Astrologia parte do que ganharam com ela. Isto não quer dizer que seja preciso ser excepcionalmente inteligente para estudar Astrologia, pois basta ter dedicação para aceder aos seus níveis mais profundos”. O
ensino é uma das principais áreas a ter em conta, pois
é através de livros e de cursos que muitos dos interessados
tomam contacto com o tema. Este é, no entanto, um aspecto muitas
vezes negligenciado, comprometendo assim, desde o início a boa
apreensão do conhecimento astrológico. “Não
me compete dizer aos outros como ensinar e por certo que o meu método
de ensino está longe de ser perfeito. No entanto, preocupa-me
que não esteja a ser dada aos estudantes a melhor base de trabalho”. Quanto ao futuro da Astrologia, considera que vão tornar-se gradualmente mais comuns as abordagens rigorosas à pesquisa e à educação. “Embora não gostasse de ver a Astrologia tornar-se um tema exclusivo de académicos ou de intelectuais, considero necessário que nos eduquemos mais completamente como astrólogos. Não devemos considerar isso negativo, pois permite-nos compreender a Astrologia na sua totalidade e faz de nós melhores astrólogos”.
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